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Resenha: It, a coisa - Stephen King



Durante as férias escolares de 1958, em Derry, pacata cidadezinha do Maine, Bill, Richie, Stan, Mike, Eddie, Ben e Beverly aprenderam o real sentido da amizade, do amor, da confiança e... do medo. O mais profundo e tenebroso medo. Naquele verão, eles enfrentaram pela primeira vez a Coisa, um ser sobrenatural e maligno que deixou terríveis marcas de sangue em Derry. Quase trinta anos depois, os amigos voltam a se encontrar. Uma nova onda de terror tomou a pequena cidade. Mike Hanlon, o único que permanece em Derry, dá o sinal. Precisam unir forças novamente. A Coisa volta a atacar e eles devem cumprir a promessa selada com sangue que fizeram quando crianças. Só eles têm a chave do enigma. Só eles sabem o que se esconde nas entranhas de Derry. O tempo é curto, mas somente eles podem vencer a Coisa.


Em 'It - A Coisa', clássico de Stephen King em nova edição, os amigos irão até o fim, mesmo que isso signifique ultrapassar os próprios limites.

'It, a Coisa' foi lançado em 1986, meu ano de nascimento (é só coincidência, mas amo essa coincidência), pelo notável escritor Stephen King. Autor esse que, creio eu, todos já ouvimos falar, mesmo que nunca tenhamos lido nada dele (muitos filmes bastante conhecidos são inspirados em obras do autor).

Antes de começar a falar propriamente do livro, vou pedir licença a vocês e contar minha história de amor por esse livro!!

Eu comecei a ler cedo, tive muito incentivo de minha mãe, e intercalava leituras mais infanto-juvenis com outras mais “adultas”. Aos 11 anos já me interessava por Agatha Christie, mas adorava ler a série Vaga-Lume... Logo cedo percebi que mesmo gostando de ler quase tudo que me caía nas mãos, acabava dando mais atenção aos livros de romance policial e ficção científica.

Achei meu gênero favorito quando vi minha mãe lendo um livro com uma capa fantástica... Ela estava lendo 'It, a Coisa' numa edição da editora Francisco Alves, de 1989. Mas minha mãe me achava muito nova para ler aquele calhamaço e me emprestou o livro Christine, que foi o primeiro livro do King que li e amei! Depois de ter lido outros dois livros dele, a mãe finalmente me permitiu ler 'It' e foi impressionante o quanto essa história foi um marco na minha vida.

Vamos a ele finalmente...

Em 'It' a história é contada intercalando o que aconteceu no passado, em 1958, e o que está acontecendo no presente, em 1985, na cidade de Derry. Ele contêm 23 capítulos, 5 interlúdios e um epílogo, que são divididos em 5 partes, A Sombra Antes, Junho de 1958, Adultos, Julho de 1958 e O Ritual de Chüd.

Os principais personagens desse livro são os sete amigos, Bill, Mike, Ben, Stan, Richie, Eddie e Bev, os integrantes do Clube dos Otários, que tiveram sua vida marcada pela Coisa de uma ou outra forma. Aqui a história é escrita em terceira pessoa, o que dá excelente perspectiva dos acontecimentos.

A história inicia com o ataque da Coisa ao irmão do Bill, George, em 1957, que acabou sendo o pontapé inicial para a reunião dos nossos protagonistas no verão seguinte, em junho de 1958. Em seguida nos mostra o ataque dela em 1984, que motiva o reencontro deles em 1985, quando Mike, que ainda mora em Derry, decide que é a hora deles voltarem e terminarem o que começaram 27 anos antes. Só que agora a Coisa não quer somente se alimentar, ela quer se vingar de quem atrapalhou seu último ciclo e não medirá esforços para destruí-los.

É muito interessante acompanhar o encontro e amadurecimentos dos garotos e da Bervely, como a amizade de desenvolveu entre eles e como cada um pode contribuir a sua maneira para enfrentar esse mal que mais ninguém se importou de tentar exterminar.

As mudanças da época em que a história é contada podem parecer que confundirá o leitor, mas bem diferente do que possa aparentar, King escreve de tal forma que tudo ganha uma fluidez impressionante, parece até natural ler uma história em que você acaba sendo apresentado ao que já se passou ao mesmo tempo em que conhece o que está acontecendo no presente.

O livro possui, na edição atual da Suma de Letras, 1.103 páginas só que momento algum King teve que apelar para discursos prolixos ou “encheção de linguiça”. Existem algumas partes bastante descritivas e podemos achar desnecessárias, só que mais a frente acabamos percebendo sua necessidade. Cada personagem tem sua razão de existir e as personalidades são trabalhadas de uma forma tão extraordinária que acabamos a história com a certeza que conhecemos realmente cada um deles e entendemos as motivações por trás de cada ato.

Pode-se parecer que a história diz respeito à coulrofobia, o medo de palhaços, mas na verdade é uma trama tão maior. Ele usa o aspecto do palhaço Pennywise, que por ser algo mascarado, mas de uma forma engraçada, pode inspirar confiança, só que continua sendo uma mistura de felicidade fingida com intenções ocultas. A Coisa, na verdade, é a personificação do mal, ela consegue sintetizar seu pior medo e usá-lo contra você, de forma que você seja aniquilado por ele.

A Coisa é um ser bastante complexo e ímpar. Nesse livro temos vislumbres de sua origem e ela é bem perturbadora, além de como ela age, que é bastante incômodo (não tem como não ler e tentar imaginar em como ela iria aparecer para mim). Ela faz parte de Derry ou, quem sabe, Derry faz parte dela. A cidade é como se fosse seu delivery e como ele não é tão explícito, as mortes causadas por ela são sempre “explicadas”.

E o que falar de Derry?? Stephen King tem uma impressionante capacidade de “dar vida” às cidades quem ambientam suas histórias, fazendo delas parte essencial das tramas. Aqui não é diferente, Derry é a soma de todos os moradores, visitantes e acontecimentos, conhecemos não só as pessoas, mas sim o organismo “cidade”.

Mas a história não se trata somente disso, ela nos mostra a verdadeira face da amizade, do medo, da covardia, da maldade, do amor, da saudade, do preconceito... De uma forma que muito mais do que nos fazer ter medo, nos faz refletir sobre esses aspectos de uma forma impactante, afinal aqui vemos claramente a luta contra algo irracional que é o medo, de uma forma que ou você o vence ou encara sua morte.

Tanto na minha primeira leitura quando nas posteriores sempre me senti incomodada com esse livro, ele nos faz sair de nossa zona de conforto, nos faz sentir como se algo estivesse à espreita, só que temperado com momentos engraçados.

Existe um certo momento das crianças que quem leu sabe do que se trata que muitos torcem o nariz e dizem ser algo absolutamente de mau gosto e desnecessário para o desenrolar da história. 

Todavia, na primeira vez que li fiquei boquiaberta e não entendi bem o que havia acontecido. Depois quando reli acabei desgostando do que aconteceu. Só quando resolvi reler em 2014, me surpreendi quando acabei entendendo o porquê de sua existência... Acho que precisava amadurecer a ideia.

Poxa, como foi complicado escrever isso sem revelar nada que pudesse acabar sendo um spoiler, já que o livro possui uma trama com subdivisões e em cada parte algo é revelado...

Maravilhoso e super recomendo!!!


“O palhaço segurava vários balões de todas as cores, como lindas frutas maduras, em uma das mãos. Na outra segurava o barco de papel de George.
– Quer seu barco, George? – O Palhaço sorriu.
George sorriu também. Não conseguiu evitar; era o tipo de sorriso que você tinha que retribuir. – Claro que quero – disse ele.
O palhaço sorriu. – “Claro que quero.” Isso é ótimo! Isso é muito bom! E que tal um balão?”

“– Eles flutuam – rosnou a coisa –, eles flutuam, Georgie, e quando você estiver aqui embaixo comigo, também vai flutuar...”